quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Diálogo do mel e do tabaco

As abelhas, como as vespas, são insetos himenópteros, de que a América tropical possui centenas de espécies, agrupada em 13 familias ou sub-familias, a maior parte delas solitárias. No entanto, apenas as abelhas sociais produzem o mel em quantidades que apresentam um interesse alimentar: "país-de-mel", diz graciosamente o português; todas elas pertencem à familia das meliponídeas, genero Melipona e Trigona. À diferenças das européias, as melíponas, de tamanho menos são desprovidas de ferrão e de veneno. Podem no entanto ser muito incomodas, devido à conduta agressiva; uma espécie é por esta razão, chamada de "torce-cabelos". Há outra espécie, ainda mais desagradável, que se aglutina às dezenas, quando não às centenas, no rosto e corpo dos viajantes, para sugar seu suor e suas secreções nasais ou oculares. Daí a designação vernacular de "trigona dukei: lambe-olhos".

Chega-se a um estado de exasperação diante dessa titilação em pontos particularmente sensíveis, como o interior das orelhas e das narinas, nos cantos dos olhos e na boca. A que não consegue dar um fim por meio de movimentos bruscos que geralmente afugentam os insetos. As abelhas, entorpecidas, como que embriagadas pelo suor humano, parecem perder a vontade ou quem sabe a capacidade de alçar voo. A vítima cansada de de se agitar em vão, acaba dando tapas no próprio rosto. Gesto fatal, pois os cadáveres esmagados e encharcados e suor humano lambuzam os insetos sobreviventes ao seu redor e incitam outros a se juntar a eles, Atraídos por um novo banquete.

Claude Lévi-Strauss
(do mel às cinzas)

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